quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O pescador, o anel e o rei


                                                     Conto popular - Música e adaptação: Bia Bedran


Era uma vez um velho pescador que vivia cantando:
Canto: Viva Deus e ninguém mais / Quando Deus não quer / ninguém nada faz.

Mesmo quando sua pesca não era boa, ele cantava com muita fé e alegria a sua cantiga.
Canto: Viva Deus e ninguém mais / Quando Deus não quer / ninguém nada faz.

Um dia, o rei daquele lugar soube da existência do pescador e quis que ele fosse à sua presença, por não admitir que Deus podia mais que tudo no mundo... Esse rei era tão poderoso e orgulhoso, que achava que podia até mais que o próprio Deus!
E lá foi o pescador, subindo as escadas de tapete vermelho do palácio, cantando:  Viva Deus...

Diante do rei, o pescador não mostrou medo algum, e ainda reafirmou sua fé, cantando a mesma cantiga.
Então o rei disse:
Rei: Vamos verse Deus pode mais que eu, pescador!
Eis aqui o meu anel. Vou entregá-lo aos seus cuidados!
Se dentro de 15 dias você me devolver o anel, intacto, você ganhará um enorme tesouro, e não precisará mais trabalhar para viver.
Porém, se no 15° dia você não voltar com o anel, mando cortar a sua cabeça! Agora vá embora...
O pescador foi embora e na volta pra casa, cantava: Viva Deus...

Quando chegou em casa entregou o anel para a mulher que prometeu guardá-lo a sete chaves. Deixe estar que isso não passava de um plano do rei, que logo mandou um criado disfarçado de mercador, bater na casa do pescador, quando esteja havia saído para pescar.
Criado disfarçado: Ó de casa!
A velha senhora abriu a porta.
Criado: Minha senhora, sou mercador. Vendo e compro anéis. A senhora não teria aí pelas gavetas um anelzlnho para me vender? Pago bem!
E mostrou muito dinheiro.
Velha: Não tenho não senhor. Aqui é casa de pobre. Não tem anel nenhum não.
Mas a velha ficou surpresa com tanto que o homem mostrava.
Acabou caindo na tentação, e vendeu o anel!

No fim do dia, o pescador voltou pra  casa cantando:  Viva Deus...

...Quando chegou em casa, soube do que havia acontecido e ficou desesperado.
Pescador: Mulher! Você não vendeu o anel não; você vendeu minha cabeça!
E foram correndo procurar o mercador pela floresta, pela estrada, pela praia, pela aldeia e nada...
Claro! À essa altura, o criado disfarçado de mercador já estava longe, e havia jogado o anel em alto mar, a mando do rei, para que nunca mais ninguém pudesse encontrá-lo.
E: o tempo foi passando...
Décimo dia...
O pescador, triste continuava cantando: (mais lento) Viva Deus...
Décimo primeiro dia...
E o pescador cantando e pescando...
Canto: (ainda mais lento) Viva Deus...

Até que no penúltimo dia, o pescador chamou a mulher e disse:
Pescador: Mulher, eu vou morrer... Amanhã, minha cabeça vai rolar. Vamos nos despedir, com uma última refeição. Farei uma boa pescaria. E lá foi o pescador, tristemente, cantando sem parar sua cantiga.
Canto: Viva Deus... (muito triste)

Pescou 50 peixes, 49 ele vendeu no mercado, e 1 levou para mulher preparar.
Ela caprichou no tempero e fez no fogão de lenha, aquele peixe que seria sua última ceia junto com o marido depois de tantos anos. Mastiga daqui, chora dali, pensa de lá, e de repente...
Pescador: (Se engasgando) O que é isso? Mulher (cospe o anel).
Eu não disse que Deus pode mais que todo o mundo?
Canto(bem animado): Viva Deus...

O pescador limpou o anel, e correu em direção ao palácio. Subiu a escadas de tapete vermelho cantando, fez uma reverência para rei, que perguntou todo poderoso:
Rei: E então, pescador? Aonde está o meu anel?
E o pescador, vitorioso:
Pescador: Está aqui, meu rei!
O rei ficou boquiaberto! Não conseguia acreditar...Teve de entregar o tesouro para o pescador. E até o rei teve que cantar:
Canto: Viva Deus e ninguém mais / Quando Deus não quer / Ninguém nada faz.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA A FORMAÇÃO DA CRIANÇA*

"O mundo é um livro sem texto, criado a partir da palavra. Dizendo-se faça-se a luz, a água, a terra, o caos se curou. Livro sem texto onde me vejo elaborando orações, apaziguando as imensas emoções percebidas nesse mar de linhas e horizonte de eternas leituras. Desde o início em que me lembro, leio ininterruptamente suas páginas, recorrendo a todos os meus sentidos, acrescentando ainda o fantasiado, na tentativa de me acalentar frente a tão imenso mistério. E sobre esse remoto livro sem texto – invenção original primeira – busco atribuir significado a tudo que ultrapassa meu pouco poder. Freqüentemente, incapaz de decifrar os enigmas, recorro ao imaginário, resgatando elementos para me proteger diante de tamanha intensidade. E só a palavra me inscreve. "(QUEIRÓS, 1996: 23)

Esse é o início do texto “Ouvir Histórias… Ler o mundo”, do escritor Bartolomeu Campos Queirós. Nele, Bartolomeu compara o mundo a um livro sem texto criado a partir da palavra. Diz que desde o início lê ininterruptamente suas páginas buscando atribuir significado a tudo que ultrapassa seu pouco poder.

O texto ilustra bem o papel que a literatura desempenha na vida da criança. Bartolomeu relata seus primeiros contatos com a palavra, sua relação com as histórias que ouvia – no caso, seus primeiros contatos com a literatura,no caso, a oral.

Começa falando da leitura do mundo (muito anterior à da palavra escrita), mais especificamente da complexidade da tarefa da criança em compreender/ler o mundo cujos significados ela precisará construir ao longo de toda sua vida: “Nascer foi receber, sem aviso prévio e de uma só vez, todo o livro onde o firmamento está ilustrado com estrela, sol, lua…” (QUEIRÓS, 1996: 23) e conta como foi “legendando” o “livro sem texto”, no caso, através dos contos que ouvia: “cada história me trazia novos entendimentos. Elas clareavam meus jovens pressupostos”. (QUEIRÓS, 1996: 24)

Um dos papéis da literatura é ajudar a criança a compreender o mundo e a si mesma, a construir sentidos para a vida. Lidando com a imaginação, com a fantasia - faculdades que a criança domina bem - e contando com o arranjo artístico da linguagem, a literatura fala diretamente ao inconsciente da criança, explicando para ela coisas que não conseguiria entender de outra forma. A história de Joãozinho e Maria, por exemplo, pode mostrar à criança que ela é capaz de enfrentar (e vencer) o medo; que, mesmo estando numa situação difícil, com inteligência e discernimento ela poderá achar uma solução.

Através da literatura, a criança entra em contato com emoções, sentimentos e questões existenciais: “em suas narrativas afetuosas eu descobria o contraditório, o medo, o desejo, o ódio, a insegurança, sentimentos comuns a todos nós”. (Queirós, 1996: 24). E, de acordo com o escritor Ricardo Azevedo , esses são assuntos “sobre os quais não tem cabimento dar aula”:

“… a morte, a busca do auto-conhecimento, a amizade, a alegria, os afetos, as perdas, o desconhecido, o imensurável (o gosto, o prazer, o amor, a beleza etc.), a busca da felicidade, a astúcia, o ardil, os sonhos, a dupla existência da verdade, a relatividade das coisas, a injustiça, o interesse pessoal versus o coletivo, o livre arbítrio, a passagem inexorável do tempo, o paradoxal, o conflito entre o velho e o novo etc.” (Azevedo )

Outro fator importante é a questão do desenvolvimento da criatividade. A literatura explora muito a sensibilidade, a imaginação; e as crianças que crescem em contato com a literatura – tendo sua sensibilidade e imaginação exploradas – conseqüentemente se tornam mais capazes de imaginar. E imaginar é pensar, é raciocinar - o que leva tanto à criatividade quanto à criticidade.

Poderíamos falar ainda de outros atributos da literatura, mas os citados já a configuram como indispensável na vida da criança.



*Esse texto é parte do artigo "A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO
DO LEITOR COMPETENTE", produzido por Carmélia Cândida em parceria com Denise Maria Silva Rufino como trabalho de conclusão do curso de pós-graduação "Alfabetização e Letramento", da Unincor - Universidade Vale do Rio Verde.

O coqueiro encantado

      Muito longe daqui, numa pequena povoação, vivia antigamente um pobre padeiro. Esse padeiro tinha um filho. Roberto era o seu nome , mas todos o conheciam por Betinho. Direi que Betinho era um menino esperto, obediente e trabalhador.
         Um dia, Betinho, depois de fazer sua tarefa (arrumar a casa e varrer o quintal), foi dar um passeio por uma grande mata que havia perto de sua casa.Ora, junto da estrada, havia um velho coqueiro. Notou Betinho que o coqueiro estava cheio de formigas.
         -Que pena -pensou Betinho - essas formigas são bem capazes de matar esse coqueiro.
          E, apanhando dois galhos secos, começou a bater nas formigas e tanto bateu, tanto bateu, que elas fugiram. Quando Betinho havia acabado de salvar o coqueiro, livrando-o das formigas, ouviu vozes no meio da mata. Que seria?
          Betinho era curioso e resolveu espiar. Foi bem devagarinho, pé ante pé, escondeu-se atrás de uma árvore e espiou. Era de assustar o mais valente. Debaixo de uma grande figueira avistou Betinho uma mulher, muito velha, vestida de preto com uma vassoura na mão. Compreendeu Betinho que a velha do vestido preto era uma feiticeira. E diante dela estavam três bichos: um macaco, um porco e um tatu. A feiticeira falava:
Lá, lá, lá,
Vamos começar.
Lá, lá, lá,
Vamos começar!
             E, nisso, o macaco apontou para o lugar em que se achava o Betinho:
             - Rum! Rum! Rum!
             A feiticeira voltou-se e avistou o vulto de Betinho. E gritou furiosa: 
             - Vamos agarrar aquele menino! 
             Ao ouvir aquelas palavras, Betinho correu para a estrada e, mais que depressa, subiu no coqueiro.A feiticeira chegou junto do coqueiro e gritou alto:
Desce coqueiro
que eu quero
pegar o filho do
padeiro!
            O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, mas quando a velha de preto ia agarrar o Betinho, ele, tremendo de susto, implorou:
-Sobe coqueiro
que eu te livrei
do formigueiro!
             O coqueiro, ao ouvir a voz do menino, cresceu, cresceu, cresceu e levou o menino lá para cima. A feiticeira gritou:
-Desce
c oqueiro
que eu quero
pegar
o filho do padeiro.
             O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, até ficar deste tamanhinho. Mas quando a feiticeira ia agarrar o Betinho, este, assustado gritou:
-Sobe coqueiro
Que eu
te livrei
do formigueiro!
             O coqueiro, ao ouvir a voz do seu amigo, cresceu, cresceu, cresceu, ficou tão alto, que o menino, lá em cima, parecia pequenininho.Vendo a feiticeira que não conseguia agarrar o menino (pois o coqueiro descia e subia de novo) chamou o macaco de disse-lhe:
-Vem macaco
Matreiro
sobe no coqueiro
e traz de lá de cima
o filho do padeiro.
            O macaco resolveu subir no coqueiro, mas quando chegou no meio do coqueiro este começou a tremer, a tremer tanto que o macaco caiu, de quatro no chão. A feiticeira, furiosa, bateu com a vassoura no macaco e o macaco fugiu para o mato. A feiticeira chamou, então, o tatu:
-Vem tatu
do salseiro
derruba
este coqueiro
e tira lá de cima
o filho do padeiro.
            O tatu começou a cavar o chão para derrubar o coqueiro. De repente uma raiz do coqueiro saiu de dentro da terra, bateu com tanta força no focinho do tatu, que o tatu rolou tonto pelo chão no meio das pedras e depois, roncando de dor, fugiu para o mato.Então a feiticeira chamou o porco:
-Vem porco
porqueiro
derruba
este coqueiro
e tira lá de cima
o filho do padeiro.
             O porco quis roer o pé do coqueiro, mas o coqueiro tinha a casca tão grossa que quebrou os dentes do porco. E o porco grunhindo de dor, fugiu para o mato.A feiticeira, vendo que não conseguia agarrar o menino, começou a atirar pedras e mais pedras. O coqueiro, porém, balançava de um lado para o outro, de modo que a feiticeira não acertava no Betinho. 
             Mas Betinho, com aquele balanço, estava ficando tonto e já estava cansado. Vendo que o coqueiro era seu amigo, disse baixinho:
-Coqueiro
coqueirinho
meu amiguinho
só de brincadeira
atira um coquinho na feiticeira.
               Ora, o coqueiro largou, lá de cima, um côco e acertou bem no cocuruto da feiticeira. O côco fez: "Pum!". E saltou para cima como uma bola! A feiticeira soltou um grito e fugiu para o mato e nunca mais apareceu. Aí, então, o coqueiro foi-se abaixando, abaixando, e Betinho saltou para o chão. 
               E desse dia em diante, tornou-se Betinho amigo não só do coqueiro como de todas as árvores, pois ele sabia bem que as árvores , boas, são úteis e protegem os meninos.

Fonte: A Arte de Ler e Contar Histórias de Malba Tahan, Editora Conquista, 1961

Macaquinho


Macaquinho
Toda as noites o macaquinho passava pra cama do pai e ficava mexendo, e pulando, e dando chute, e não deixava o pai dormir.

Canto: Macaquinho, sai daí (bis)
Você tem sua cama pra se deitar
Papai quer dormir
Porque você não volta pra lá?

Macaquinho - Por que eu tô com frio.

O pai macaco cobriu o macaquinho com lençol, mas depois de um tempo lá estava o macaquinho de novo na cama do pai,
Canto: Macaquinho, sai daí (bis)
Você tem sua cama pra se deitar
Papai quer dormir
Por que você não volta pra lá?

Macaquinho - Por que eu tô com fome.

O pai macaco deu mamadeira pro macaquinho, mas não adiantou. Depois de um tempo, já tava de novo na cama do pai.

Canto: Macaquinho, sai daí (bis)
Você tem sua cama pra se deitar
Papai quer dormir
Por que você não volta pra lá?
Macaquinho - Tô com vontade de fazer xixi.

Cada dia o macaquinho dava uma desculpa: medo, cama apertada... até que um dia ele falou a verdade.

Macaquinho - Eu quero ficar na sua cama porque fico com saudades de você.

Aí o pai macaco entendeu. E começou a brincar com o macaquinho todas as vezes que chegava do trabalho, ao invés de só ver televisão. O macaquinho ficou todo feliz e nunca mais passou pra cama do pai. E nunca mais o pai macaco precisou cantar:

Canto: Macaquinho, sai daí (bis)
Você tem sua cama pra se deitar
Papai quer dormir
Por que você não volta pra lá?

  
Ronaldo Simões Coelho. Macaquinho. Belo Horizonte, Lê, 1985
Adaptação: Nick Zarvos e Bia Bedran



A Margarida Friorenta


Era uma vez uma linda margarida num jardim. Quando ficou de noite, ela começou a tremer. Ela estava com frio! Aí, passa a borboleta azul e resolve ajudar a Margarida. Acompanhe o que acontece com essa florzinha, veja como ela se livrou do frio que nunca acabava.

Lindo texto de Fernanda Lopes de Almeida ilustrado por Lila Figueiredo (Editora Ática). Ideal para educação infantil e para séries iniciais do ensino fundamental.


Menina Bonita do Laço de Fita - Imprescindível!!!


Esse livro é uma preciosidade da nossa literatura infantil. Todo contador de histórias, professor, agente de leitura, pais que oferecem livros para seus filhos têm que conhecer. 

É a história de uma menina linda, linda, pretinha, que usa sempre fitas coloridas no cabelo. Na história da menina tem um coelho branco que acha ela  a pessoa mais linda que ele já viu... É uma narrativa simples, fluida, apaixonante e muito agradável.

Excelente para educação infantil. Muito boa para usar com com crianças das séries iniciais do ensino fundamental.

Menina bonita do laço de fita, escrita por Ana Maria Machado e ilustrada por Claudius, é uma publicação da Editora Ática. Teve sua 1ª edição no ano de 2000.

Obs.: Ao fazer uma pesquisa para saber o ano da 1ª edição do livro para este post, encontrei o texto de Menina Bonita como base para questões banais de interpretação em uma prova... Fico muito triste ao ver a beleza de textos serem perdidas em trabalhos como esse. Lamentável.