Confiram, abaixo, a entrevista que concedi ao Aletria, importante instituto cultural voltado para a arte de contar histórias, localizado em Belo Horizonte - MG. Disponível em http://www.aletria.com.br/pagina.asp?area=10&secao=10&site=1&tp=12&id=2658&click=121
III Cuento en Corto: uma entrevista com Carmélia Cândida
O concurso da RIC, Cuenta en Corto é internacional, mas tem um jeitinho mineiro por lá: este ano, mais uma vez, encontramos entre os finalistas dois mineiros. Um deles é Carmélia Cândida,de Pará de Minas, que foi escolhida entre as finalistas com o vídeo “Sapo dando sopa”, baseado em uma história de Flávio de Souza. Conversamos com ela sobre o concurso e é claro, sobre a contação de histórias e você lê aqui:
Aletria: O que aconteceu primeiro: a contadora de histórias ou a estudante de letras?
Carmélia Cândida: A contadora de histórias, com certeza! A contação de histórias faz parte da minha vida desde sempre e de uma forma afetiva, especial. Cresci ouvindo histórias contadas, principalmente, pelo meu pai, pela minha mãe, pela minha tia Ção. O contar histórias (contar “casos”) veio de uma tradição de família. Minha avó e bisavó maternas eram grandes contadoras de histórias. Meu pai conta que, na casa da minha bisavó materna, que era cega, era frequente e pontual haver muita gente reunida para ouvir os “casos” dela. Foi esse contato afetivo com a contação e o gosto de ouvir que me levou ao gosto de contar. O contar histórias, para mim, foi muito espontâneo e natural. Quando ingressei no magistério, em 1998, pude colocar essa arte em prática, de forma mais efetiva (em parte, foi pelo gosto pelo contar e pela arte em geral que fui levada ao magistério). Encantada, passei a fazer cursos e oficinas e a estudar a arte, buscando aperfeiçoar o que eu já fazia naturalmente. Embora eu tenha começado a me apresentar em ambientes além da escola no qual trabalhava quando já fazia Letras, por volta de 2001, a contadora de histórias já vivia dentro de mim há muito tempo. Hoje, tenho uma trajetória de mais de 10 anos como contadora de histórias. Quem quiser saber mais sobre mim ou me contatar pode fazer isso pelos meus blogs http://carmeliacandida.blog.terra.com.br// e http://eraumavezesempreoutra.blogspot.com/ ou, ainda, pelo e-mail carmeliacsd@yahoo.com.br
Aletria: Você foi uma das finalistas do III Cuento en Corto. Como ficou sabendo do concurso e da RIC, a Rede Internacional de Contadores de Histórias?
Carmelia Cândida: Tinha conhecimento da RIC pela internet. No ano de 2010, estive no Montanhas de Histórias, em Ouro Preto, e conheci a Beatriz Montero, a moça cativante com “sol nos cabelos”, coordenadora da RIC. Fiz oficina com ela. Beatriz trocou e-mails com participantes da oficina e, desde então, passei a receber e a acompanhar notícias dela e da RIC. Do concurso, fiquei sabendo pelo Óprocevê, que recebo semanalmente no meu e-mail, como fico sabendo de muitas coisas interessantes que acontecem no universo lindo da contação.
Aletria: Fale um pouco da história: Sapo dando sopa. Como foi trabalhar com ela e porque você a escolheu?
Carmelia Cândida: Sapo dando sopa é do livro Príncipes e princesas, sapos e lagartos, do escritor Flávio de Souza (SP). É um livro divertidíssimo, que traz uma história longa – a principal, que vai até o fim do livro – intercalada por várias histórias curtas. São versões modernas de contos de tempos antigos. Há uma subversão dos contos de fadas, apresentados sempre com desfechos inusitados, diferentes dos tradicionais, de forma muito bem humorada. Sapo dando sopa é uma das histórias. Nela, uma princesa está passando perto de uma lagoa quando escuta um sapo cantando a música de chamar princesas beijoqueiras. Ela vai correndo porque em troca do beijo (que deve transformar o sapo em príncipe) as princesas ganhavam uma pepita de ouro (uma pepita de ouro dava para comprar muita coisa, e ela estava muito interessada na pepita!). A princesa chega e dá um superbeijo no sapo! E aí... PLICT! PLOCT! PLUFT! Ela vira uma sapa! E o que acontece depois? Isso vou deixar para vocês conferirem no vídeo! Eu adoro esse livro e tinha-o usado muito em sala de aula (hoje não atuo mais como professora). Então foi uma delícia trabalhar com a história, que já era bem íntima minha e faz parte do meu repertório. Eu a escolhi por ser curta, pois precisava ser, e por ser uma graça de história. Outro critério que influenciou a escolha foi o fato de eu querer uma história que não fosse muito conhecida, para ter um quê de novidade. Como, além disso, ela ainda tem elementos surpresa, achei-a ideal.
Aletria: Como foi feita a produção do vídeo?
Carmelia Cândida: Foi tudo muito rápido. Tinha recebido a Óprocevê com a notícia do concurso no fim de novembro. Estava com muitos trabalhos, com a cabeça “cheia”. Fiz uma leitura apressada e li, equivocadamente, que as inscrições iriam até 15 de dezembro (ao invés de 15 de janeiro). Pensei “Vai ficar para a próxima”. Lá pelo dia 9 de janeiro, uma segunda-feira, recebo por e-mail uma “última chamada” para o concurso e percebo que tinha me enganado com a data das inscrições. Apesar de estar envolvida intensamente em outro projeto e com pouco tempo disponível, resolvi que iria fazer de qualquer jeito. Tinha até o sábado de manhã, 4 dias, para escolher a história, fazer tudo e enviar o vídeo, pois eu ficaria fora no fim de semana. Para mim seria muito importante participar do concurso, pois, apesar de ter mais de 10 anos como contadora de histórias, meu trabalho tem ficado restrito à minha cidade, Pará de Minas, e muitas pessoas a quem respeito têm “puxado minha orelha”, dizendo que tenho que divulgar meu trabalho e expandi-lo, o que resolvi fazer. Então fui pesquisar a história, no meu repertório, nos meus livros, na internet. Uma vez escolhida, fui procurar o contato do Flávio de Souza para pedir-lhe autorização para usar o conto e adaptá-lo para a narração. Consegui que um fotógrafo, que também faz filmagens, gravasse para mim. Gravamos na quinta-feira à tarde, no estúdio de fotografia, num intervalo do meu horário de trabalho. Foi uma dificuldade conseguir alguém para fazer a tradução, pois eu não conhecia ninguém que pudesse fazer e tinha que ser com urgência, de um dia para o outro. Mas no final deu certo, consegui. Eu mesma fiz a edição na sexta-feira – apenas coloquei título e uma trilha no início e no fim e legendei. O contato com o Flávio havia sido feito na terça, ele me retornou, mas a autorização só veio na sexta, quando eu estava finalizando o vídeo (caso ele não autorizasse, todo o trabalho seria perdido). No sábado de manhã, estava tudo pronto. Além de Sapo dando sopa, inscrevi o vídeo com um conto lindo do Bartolomeu Campos de Queirós, A menina que sonhava em ter a Lua, que já tinha pronto. Esse conto é de um um CD demonstrativo que gravei recentemente em parceria com o músico Urbano Medeiros, o vídeo traz o áudio do CD com imagens que eu inseri para colocar no youtube. Esse CD está disponível para download em: http://migre.me/7S3YE. Agradeço ao Flávio de Souza a permissão para usar o conto e divido com ele o sucesso do vídeo.
Aletria: No ano passado, entre os finalistas dois contadores de Minas Gerais. Este ano, você e o Roberto de Freitas, também de Minas Gerais. O que tem na nossa água? E dá para engarrafar e vender?
Carmelia Cândida: Ah....não sei. Sei que nossa água é muito boa. Talvez ela tenha um pouco de açúcar e isso tenha a ver com o jeito manso, acolhedor e afetivo dos mineiros. Pode ser isso. Se dá para engarrafar e vender? Dá para compartilhar, de preferência numa boa roda de gente, com todo o mundo perto, olho no olho... Falando no Roberto de Freitas, fiquei muito honrada de ter sido finalista junto com ele. Conheço o Roberto há um tempão, acho-o “bom demais da conta” e tenho um carinho muito especial por ele. Já disse para ele que ele não é um contador de histórias, ele é um encantador de gente. Então estar, de certa forma, ao lado dele como finalista no concurso foi mais um motivo para eu ficar feliz. Agradeço a Aletria pelo convite para a entrevista. Esse instituto tem feito muito pela contação de histórias em Minas Gerais e sinto-me lisonjeada em estar marcando presença em seu site. Um grande abraço a todos! E que, nas histórias da vida, possamos nos encontrar e nos reencontrar muitas vezes.
Um comentário:
Oi, Carmélia
Que boas novas, então, essas
li o texto com olhar adulto, maduro, mas ao assistir ao vídeo o olhar de algum jeito se 'criançou'.
Achei um barato ler a legenda enquanto ouvia, como se dela precisasse pra entender direito sua contação.
Parabéns
Postar um comentário